Texto: Núria Calú
A 2.ª Edição do COMARP Fórum teve como palco o Hotel Glória, na cidade de Maputo, no dia 20 de Setembro de 2024. O evento reuniu mais de 200 participantes, entre profissionais, especialistas, estudantes e empresas dos sectores da Comunicação, Marketing e Relações Públicas. Teve início às 13h00 e foi marcado por painéis que proporcionaram um ambiente de aprendizado, debate e networking.
O fórum abordou questões-chave sobre o futuro das indústrias de Comunicação, Marketing e Relações Públicas. Três painéis principais destacaram-se na programação, oferecendo uma análise profunda sobre os desafios e as inovações que estão a moldar os sectores.

Painel 1: Inteligência Artificial nos Sectores da Comunicação, Marketing e Relações Públicas
Moderado por Mauro Ferro, o primeiro painel discutiu o impacto da inteligência artificial (IA) nos sectores. Com as contribuições de Celestino Joanguete, Selma Inocência, Ivannea M. Samamad e Rui Matata Manuel, o debate centrou-se na forma como a IA está a optimizar processos, promovendo a personalização em escala e permitindo decisões mais rápidas e precisas por meio da análise de dados em tempo real. Foram também abordadas questões éticas e regulamentares que surgem com a utilização desta tecnologia.
Na sua intervenção, Ivannea M. Samamad destacou que “a inteligência artificial é um caminho sem volta. As organizações devem encarar isso como uma estratégia de posicionamento no mercado, buscando competências e conhecimento tecnológico para formar e capacitar os seus trabalhadores na inserção destas ferramentas no dia-a-dia laboral, sem desvalorizar o papel do colaborador e a manutenção dos valores da própria instituição. A missão e os valores devem ser salvaguardados de forma a garantir que a ética e deontologia profissional se mantenham inalteradas”.
Por outro lado, Rui Matata Manuel, especialista angolano em Marketing e presidente da SADC Marketing Association, afirmou que “deve-se esclarecer aos colaboradores que a inteligência artificial não veio para substituir a massa laboral, mas para agregar valor às empresas, contribuindo na gestão do tempo e facilitar o trabalho. Além disso, destacou a importância de regulamentar a inteligência artificial, especialmente em questões como privacidade e protecção de dados, para que as empresas sejam devidamente protegidas”.

Painel 2: Importância da ESG e Sustentabilidade para Gerar Valor à Marca Empresarial
Sob o comando de Felícia Nhama, o segundo espaço de debate contou com a intervenção de especialistas como Açucena Paul, Dayse Correia e Alexandre Jorge Mano, que debruçaram sobre como as práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) estão a tornar-se essenciais nas estratégias empresariais. Na ocasião, os intervenientes destacaram como as empresas podem gerar valor a longo prazo, fortalecer as suas marcas e conquistar a confiança dos consumidores ao integrar práticas sustentáveis.
Para o consultor Alexandre Mano “o objectivo estratégico das empresas deve ser reflectir sobre como implementar as medidas ESG, de forma a garantir que os seus valores sejam reflectidos nessa política e estratégia”.
Num outro desenvolvimento, Mano defende também que é hora de reflectir sobre a definição de políticas ESG, implementando ou aplicando algumas métricas e procedimentos dentro do processo comercial. “Devemos começar a pensar na definição dessas políticas ESG, começando por implementar ou aplicar algumas métricas e procedimentos dentro do processo comercial, numa óptica de retorno de investimento, nomeadamente: perfil da empresa, naquilo que são os requisitos que a empresa tem como visão, missão e alguns pressupostos para que as organizações possam trabalhar umas com as outras”, acrescentou.
Por sua vez, Açucena Paul, reforçou a necessidade de reflectirmos sobre a sustentabilidade das nossas acções enquanto empresa. Defendeu que as empresas devem avaliar de que forma impactam tanto as pessoas como o meio ambiente. “Devemos parar para pensar o quão sustentáveis são as nossas acções enquanto empresas. Quando pensamos em sustentabilidade, temos de pensar quais as actividades que efectuamos, como elas impactam tanto as pessoas como o meio ambiente e como podemos mitigar esses impactos. Mais do que criar iniciativas ´fofinhas´, devemos pensar como o nosso negócio impacta os nossos trabalhadores, os clientes e o meio ambiente”, destacou.
Por outro lado, Dayse Correia releva que o segredo da lealdade e confiança de uma marca, por parte dos consumidores, passa igualmente por apostar em práticas sustentáveis. “A partir do momento em que queremos vender ou apresentar a nossa marca ou produto, temos de transmitir a confiança e transparência dos nossos processos para o consumidor. É importante que os profissionais tenham em mente que tudo o que é comunicado publicamente pode levar anos para conseguir obter a confiança e lealdade de um consumidor. A confiança parte muito da transparência com que se comunica, dos códigos de conduta e, sobretudo, de fazer o consumidor entender que a empresa está comprometida com práticas sustentáveis”.

Painel 3: Impacto do Marketing Social e Abordagens da Comunicação para a Mudança de Comportamento
Na sequência do tema anterior, Segelina Filipe teve a missão de moderar o terceiro (último) painel, espaço no qual abordou-se o poder do marketing social e da comunicação para promover mudanças comportamentais. Especialistas como Sofia Bandomia, Állya Jussub e Carlos Osvaldo Mabutana exploraram como a comunicação pode transformar realidades, educar e consciencializar as comunidades sobre temas sociais, utilizando também tecnologias para amplificar os resultados das campanhas.
Na sua abordagem ao tema, a líder de comunicação e saúde comunitária, Sofia Bandomia, disse que a mudança de comportamento a nível de empresas está muito ligada à sociologia organizacional. “Muitas empresas aplicam mais recursos no marketing externo e não interno. Na construção externa da marca é onde realmente identificamos o valor, status e princípios da nossa marca, podendo definir o marketing necessário para o nosso público interno. Quem faz uma empresa são as pessoas e este investimento interno é válido porque um colaborador que veste a camisola vende a marca: vende mais, promove mais e brilha muito mais”, afirmou.
Na perspectiva do fundador da Plataforma Mozong, Carlos Osvaldo Mabutana, é fundamental valorizar as pessoas. “A melhoria de comportamento funciona efectivamente quando colocamos as pessoas em primeiro lugar. O que as pessoas precisam? O que elas vivem? Quais são as suas dores? A partir disso, se compreendermos as pessoas e o que lhes toca, o que lhes falta, poderemos conduzir ou ajudar no processo de melhoria de comportamento, para que elas próprias sintam que estão a produzir conhecimento e nós somos apenas suporte. É necessário formar e envolver as comunidades para que elas tenham voz”, explicou.
Para concluir, Állya Jussub, especialista em Comunicação para Mudança de Comportamento, enaltece a relevância do trabalho colaborativo para alcançar resultados comuns. “É importante reconhecer que não somos especialistas em tudo. Existem especialistas para as diferentes actividades. Reconhecendo isso, é preciso começar com esta visão em comum, com a clareza de objectivos entre os parceiros. É verdade que cada sector tem as suas prioridades, mas é importante lembrar que precisamos encontrar um denominador comum que nos ajude a mostrar os benefícios alcançados em conjunto com essa mudança de comportamento”.